sexta-feira, novembro 28, 2008

Na Alemanha com Arthur

por Tarsila Bee

Consegui ser selecionada pra um curso de 45 dias na Alemanha. O próprio governo alemão convidando, somente pra 12 arquitetos de todo o país. Medo! Será que vou me virar bem com meu inglês com os alemães? Saco ter que ficar um mês sem beijar na boca, pois além de ser loura e totalmente sem graça pra eles, eles só beijam depois de ter um envolvimento. Tudo bem, não vou pra isso mesmo, tenho muitas coisas a conhecer, imagine: Alemanha. Foi um lugar que eu sempre quis conhecer, mas não tanto ao ponto de pagar por isso. Tudo de graça, uma viagem pelo país inteiro. Conheceria construções, universidades, sede do governo, congresso, museu disso, museu daquilo, bunker, campo de concentração. Ficaria na casa de uma família durante 15 dias em Berlim e os 30 dias restantes em hotéis em diferentes cidades: Colônia, Hamburgo, Frankfurt, Nurenberg, Hidelberg, e vários outros bergs que não lembro agora. Não beijar não seria um problema. Também não ia ter como me depilar, imagina se o beijo se prolongasse, ia ter que recusar algo mais. Era até melhor assim.

Na chegada em Berlim, já à noite, todos nos encontramos no aeroporto, cada um vindo de um canto do Brasil. Nas apresentações, cada um se identificou basicamente com nome, estado e empresa pra qual trabalhava. Do aeroporto, direto pra família de cada um. A minha era um casal e dois gatos daqueles gigantes peludíssimos que só foram aparecer no Brasil anos mais tarde. Sou alérgica e tenho um pouco de medo de gato. Desde pequena já tive vários pesadelos horríveis com gatos me atacando, isso que nunca tinha visto dois daquele tamanho.
O casal era ótimo. A mulher só sabia falar espanhol muito mal, eu não entendia nada. Tinha que me virar com o marido – que falava inglês. No dia seguinte ele ficou com medo que eu me perdesse e me acompanhou no metrô (dentro do metrô), e foi comigo até a frente do local onde eu deveria comparecer. Por algum momento achei que ele fosse me levar pela mão, mas alemães são avessos ao toque.

Eu e os recém-conhecidos colegas participamos de uma palestra sobre alguma coisa da Alemanha: cultura, política, economia, história, não tenho mais certeza. Eis que no grupo estava o Arthur. Ele era feio, magérrimo, alto, tinha os olhos bonitos, e era tremendamente sedutor. Tinha cara de tarado, daqueles que come com os olhos. Não percebi tudo isso naquele momento, precisou um dia inteiro, uma olhada dele definitiva durante o encontro com o embaixador do Brasil na Alemanha e depois uns chopinhos num daqueles barezinhos de rua de Berlim, quando eu já sabia que ele era casado.

Sentado ao meu lado, no bar, roçou a perna dele na minha. Todos pegamos o metrô para nossas casas. Em menos de 24 horas na Alemanha eu já estava beijando um recém-conhecido casado, dentro do metrô, na frente de todos os demais recém-conhecidos. Com o beijo, veio o convite: “Amanhã você dorme na minha casa. O dono já estará dormindo quando a gente chegar e sairá antes de acordarmos”. Foi assim que aconteceu: terceira noite na Alemanha e eu já não dormia mais na casa da família que destinaram a mim. Aparecia em algum momento do dia pra pegar roupas, falar um pouquinho com o casal, dava uma enrolada e dizia que tava tudo ótimo, que eu ia falar bem deles na avaliação. Depois dos 15 dias em Berlim, veio uma infinidade de hotéis pelo interior da Alemanha. Pra nossa sorte, rolou outro casal no grupo e quando recebíamos as chaves (alojavam sempre duplas de homens e mulheres), trocávamos de quarto. Foi assim que em 15 dias eu estava casada na Alemanha. Sim, aquilo era um casamento. Tanto que nem liguei mais pra depilação. E o casamento durou 1 mês. Aqui no Brasil tentamos manter um romance entre um casado e uma solteira, morando em cidades diferentes, mas não foi possível.

domingo, novembro 23, 2008

A bebida

por Isoca

Acordou com uma mega ressaca. Tinha bebido todas e mais algumas no dia anterior com um casal de amigos. Mas o pior que não era a ressaca física, e sim a moral. Lembrou que tinha listado todo mundo que já tinha dados umas beijoquinhas (ou algo mais) do grupo deles e ainda deu alguns detalhes sórdidos de coisas que só era capaz de fazer depois de algumas caipis. Contou coisas que ela tinha se prometido nem lembrar de tanta vergonha. Agora já não sabia mais se a vergonha era de ter feito ou de ter contado no dia anterior...

Ficou pensando por alguns segundos e percebeu que a situação era um pouco repetitiva.Resolveu pedir ajuda espiritual, ainda que fosse placebo. Precisava reencontrar a luz no fim do túnel com urgência. Ligou pra moça que jogava Tarô e conseguiu marcar pro mesmo dia uma consulta.

Uma das primeiras coisas que a moça falou foi que a vida emocional tava bastante complicada. E no meio entre desvendar uma carta e outra a moça fez a seguinte pergunta "vc tem ou já teve algum relacionamento com alguem com problemas com alcool?". "Não", respondeu. E logo veio A pergunta: "vc costuma beber além da conta de vez em quando". Envergonhada, respondeu com sinceridade "É... eu gosto de umas caipis". E quem disse que a tal ressaca moral que sentiu de manhãzinha não podia aumentar? Teve que ouvir que era por isso que os relacionamentos não iam pra frente, que assustava os rapazes qdo estava um pouco ébria.

Voltou pra casa se prometendo a parar de beber. Mais tarde foi convidada pra ir numa festa. Foi e conheceu um gatinho. Lá pras tantas percebeu que o cara era um chato e sem muita opção tomou logo duas caipis pra relaxar. Se divertiu pra caramba e nem lembrou da cartomante.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Amores adolescentes em primeira pessoa

por Tarsila Bee

Eu era louca pelo Cris. Ele era lindo, asmático e fumante. Aos meus 18 aninhos, eu me sentia super madura. Recém-saída de um namoro de 4 anos, caí de amores por ele. Todo independente, não ligava muito pra mim. Ele também tinha lá as decepções amorosas dele. Era apaixonado pela Fabiana – a guria mais bonita da Zona Sul – que o desprezava. Eu ficava com os restos. E que restos... ele beijava bem, se vestia bem, abraçava forte. Tinha aquele cheiro de cigarro proibido. Ele não estudava direito, trabalhava só quando queria no restaurante do pai, totalmente desregrado. Ah, como eu amava o Cris. Ele ia lá pra casa de vez em quando, quando meus pais não estavam. E a cada ida, mais apaixonada eu ficava. Às vezes eu ia pra casa dele, mas não me importava se a mãe dele estivesse lá. Ela achava que eu ia livrá-lo do cigarro, da asma e principalmente da Fabiana. Ele raramente me procurava. Nos encontrávamos por acaso, eu ligava ou eu aparecia na casa dele.

Entre uma desprezada e outra do Cris, acabei conhecendo o Gustavo. Também era lindo, carinha de bebê. Sensível, devia ser canceriano. Me levou a sério, me levou pra conhecer a mãe, o irmão e o padrasto. Me apresentou oficialmente à família. Eu, mesmo louca pelo Cris e de vez em quando o encontrando, deixei. Até que o Gustavo apareceu um dia na minha casa, disse que me amava e queria conhecer meus pais. “Eles não estão”, falei. “Eu espero”. “Tá bom”. E ficou, ficamos esperando. Eis que toca a campainha.

Saí da sala, passei pelo pátio, pela garagem e fui até o portão. Era o Cris. O Cris! Pela primeira vez era ele que vinha até mim. Ah, o Cris, como eu amei mais ele naquela hora. Ele tinha ido me procurar. Tava sorrindo e fumando. Que boca, ele tinha. Sim, era tudo o que eu queria. Me aproximei e senti aquele cheiro de fumaça, ai. Mas não pude curtir muito porque lembrei do Gustavo lá dentro. Meu Deus! “Oi, Cris, tá tudo bem?” “Tudo, e tu?” “Bem” Me deu um beijinho na boca – ou talvez eu tenha dado. “Teus pais tão aí?” “Tão”, menti. Meus pais sempre iam pra Itapuã, e desta vez tinham levado a minha vó, que morava na casa ao lado com a Tia Vergínia e o Guilherme, meu primo. O Cris não falou nada, ficou ali parado no portão. Eu também não conseguia dizer uma palavra, nervosa com o Gustavo lá dentro. Daí apareceu a tia Vergínia: “Teus pais já voltaram?” “Já”, menti de novo. “Ué, e cadê a mãe?” “Ficou na tia Gertha”, a mentira da mentira. Minha tia Gertha morava no caminho entre Itapuã e a Zona Sul, mas não fazia sentido minha vó ficar lá. Isso nunca tinha acontecido, como nunca aconteceu. “Porque?”, diz a tia. “Não sei, ficou lá” e olhei imediatamente pro Cris pra ela parar de falar comigo. E ele não ia embora. Eu não queria que ele fosse, mas e o Gustavo? Dá pra acreditar que apareceu o Guilherme e fez as mesmas perguntas pela vó? E eu dei as mesmas respostas. E o Cris continuava ali.

Então aconteceu o inevitável. Minha mãe, meu pai, meu irmão e MINHA VÓ chegaram de carro. Estávamos bem no portão da garagem, que tinha que ser aberto pra eles entrarem. Minha mãe desce do carro pra abrir e dá de cara com a gente. “Mãe, esse é o Cris. Cris, eu tenho que entrar, tá? Tchau” Minha mãe nem conhecia o Cris mas já o odiava. “Tu vive correndo atrás desse guri, ele não quer nada contigo”, costumava me dizer pela manhã. Subi a rampa da garagem com o coração partido. “Perdi o Cris pra sempre”.

Voltei correndo pra sala antes de minha mãe entrar, sentei ao lado do Gustavo. “Mãe, este é o Gustavo”. Depois apresentei o resto da família. E quando todos achavam que aquele era meu primeiro dia de namoro, era o último. Eu só queria saber do Cris.
 

Solteira no Rio de janeiro