por Tarsila Bee
Eu era louca pelo Cris. Ele era lindo, asmático e fumante. Aos meus 18 aninhos, eu me sentia super madura. Recém-saída de um namoro de 4 anos, caí de amores por ele. Todo independente, não ligava muito pra mim. Ele também tinha lá as decepções amorosas dele. Era apaixonado pela Fabiana – a guria mais bonita da Zona Sul – que o desprezava. Eu ficava com os restos. E que restos... ele beijava bem, se vestia bem, abraçava forte. Tinha aquele cheiro de cigarro proibido. Ele não estudava direito, trabalhava só quando queria no restaurante do pai, totalmente desregrado. Ah, como eu amava o Cris. Ele ia lá pra casa de vez em quando, quando meus pais não estavam. E a cada ida, mais apaixonada eu ficava. Às vezes eu ia pra casa dele, mas não me importava se a mãe dele estivesse lá. Ela achava que eu ia livrá-lo do cigarro, da asma e principalmente da Fabiana. Ele raramente me procurava. Nos encontrávamos por acaso, eu ligava ou eu aparecia na casa dele.
Entre uma desprezada e outra do Cris, acabei conhecendo o Gustavo. Também era lindo, carinha de bebê. Sensível, devia ser canceriano. Me levou a sério, me levou pra conhecer a mãe, o irmão e o padrasto. Me apresentou oficialmente à família. Eu, mesmo louca pelo Cris e de vez em quando o encontrando, deixei. Até que o Gustavo apareceu um dia na minha casa, disse que me amava e queria conhecer meus pais. “Eles não estão”, falei. “Eu espero”. “Tá bom”. E ficou, ficamos esperando. Eis que toca a campainha.
Saí da sala, passei pelo pátio, pela garagem e fui até o portão. Era o Cris. O Cris! Pela primeira vez era ele que vinha até mim. Ah, o Cris, como eu amei mais ele naquela hora. Ele tinha ido me procurar. Tava sorrindo e fumando. Que boca, ele tinha. Sim, era tudo o que eu queria. Me aproximei e senti aquele cheiro de fumaça, ai. Mas não pude curtir muito porque lembrei do Gustavo lá dentro. Meu Deus! “Oi, Cris, tá tudo bem?” “Tudo, e tu?” “Bem” Me deu um beijinho na boca – ou talvez eu tenha dado. “Teus pais tão aí?” “Tão”, menti. Meus pais sempre iam pra Itapuã, e desta vez tinham levado a minha vó, que morava na casa ao lado com a Tia Vergínia e o Guilherme, meu primo. O Cris não falou nada, ficou ali parado no portão. Eu também não conseguia dizer uma palavra, nervosa com o Gustavo lá dentro. Daí apareceu a tia Vergínia: “Teus pais já voltaram?” “Já”, menti de novo. “Ué, e cadê a mãe?” “Ficou na tia Gertha”, a mentira da mentira. Minha tia Gertha morava no caminho entre Itapuã e a Zona Sul, mas não fazia sentido minha vó ficar lá. Isso nunca tinha acontecido, como nunca aconteceu. “Porque?”, diz a tia. “Não sei, ficou lá” e olhei imediatamente pro Cris pra ela parar de falar comigo. E ele não ia embora. Eu não queria que ele fosse, mas e o Gustavo? Dá pra acreditar que apareceu o Guilherme e fez as mesmas perguntas pela vó? E eu dei as mesmas respostas. E o Cris continuava ali.
Então aconteceu o inevitável. Minha mãe, meu pai, meu irmão e MINHA VÓ chegaram de carro. Estávamos bem no portão da garagem, que tinha que ser aberto pra eles entrarem. Minha mãe desce do carro pra abrir e dá de cara com a gente. “Mãe, esse é o Cris. Cris, eu tenho que entrar, tá? Tchau” Minha mãe nem conhecia o Cris mas já o odiava. “Tu vive correndo atrás desse guri, ele não quer nada contigo”, costumava me dizer pela manhã. Subi a rampa da garagem com o coração partido. “Perdi o Cris pra sempre”.
Voltei correndo pra sala antes de minha mãe entrar, sentei ao lado do Gustavo. “Mãe, este é o Gustavo”. Depois apresentei o resto da família. E quando todos achavam que aquele era meu primeiro dia de namoro, era o último. Eu só queria saber do Cris.
quinta-feira, novembro 20, 2008
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Poooooo fumante eh foda!
ResponderExcluirMas o melhor é o marcador do texto que colocou: "toco".